Como experiências imersivas elevam o varejo no Marketing 6.0

Se sua loja ainda depende de promoção para atrair atenção, ela já perdeu para quem vende experiência. O novo consumidor figital não busca apenas produto — ele quer se sentir dentro da marca, mesmo antes de comprar.

Neste cenário, o Marketing 6.0 deixa de ser tendência e passa a ser bússola: valoriza emoções, tecnologias sensoriais e uma presença tão envolvente quanto memorável.


O que é experiência imersiva no varejo moderno?

Experiência imersiva no varejo é quando a loja deixa de ser apenas um ponto de venda e passa a ser um ecossistema sensorial. Isso significa provocar no cliente sensações que extrapolam a compra em si: audição, tato, interatividade, cheiros, espaços instagramáveis e, principalmente, memorabilidade. É aqui que o varejo ganha corpo como palco — e o consumidor vira protagonista da cena.

Nos modelos tradicionais, a loja existia para resolver uma necessidade. No varejo imersivo, ela cria uma vontade. O cliente entra para explorar, para viver algo novo, para descobrir. Segundo a Harvard Business Review, ambientes imersivos aumentam em até 40% o tempo de permanência do consumidor. Isso impacta diretamente não só o ticket médio, mas o desejo de retorno.

No contexto do novo varejo, ser imersivo é competir com streamings, redes sociais e parques temáticos. Se a loja não entrega experiência, ela é apenas mais um ponto de consumo. E o cliente de hoje tem muitas opções — mas tempo só para quem marca.


Marketing 6.0 e o novo consumidor figital

O conceito de Marketing 6.0, formulado por Kotler, Setiawan e Kartajaya, coloca o ser humano no centro das estratégias. É uma resposta direta à era do consumidor figital: aquele que vive em constante trânsito entre o físico e o digital. Ele quer conexão emocional, personalização e sentido.

Nesse novo contexto, o marketing não se resume a comunicar benefícios. Ele precisa gerar envolvimento simbólico. Uma experiência imersiva, quando bem desenhada, entrega exatamente isso: cria uma ponte entre produto e significado. A tecnologia, aqui, não é fim, mas meio. O foco é criar laços afetivos reais em um ambiente interativo.

A Geração Z e a Alfa são especialmente sensíveis a isso. Para elas, a marca precisa ser vivida, não apenas consumida. Dados da McKinsey indicam que 72% dos jovens entre 16 e 25 anos preferem marcas que proporcionam algum tipo de experiência sensorial ou lúdica em suas lojas físicas.


Exemplos de experiências imersivas em redes brasileiras

O Brasil já conta com bons benchmarks de aplicação imersiva no varejo. A Cacau Show, por exemplo, inaugurou a Mega Store Cacau Show em Itapevi (SP), que mistura loja, parque temático, museu e cafeteria. É um modelo onde a experiência é tão importante quanto o produto — e, muitas vezes, mais rentável.

Outra referência é a Natura, que transformou sua flagship na Oscar Freire em um centro de sensações: som ambiente regulado por clima, teste de fragrâncias com tecnologia de dispersão automatizada, atendimento consultivo e ambiente biofílico.

Já o Magalu vem testando vitrines interativas com QR Codes dinâmicos que integram a jornada de compra da loja com o aplicativo. Assim, o cliente pode ver um produto exposto, escanear e continuar a experiência em seu próprio ritmo, com opção de finalizar no digital ou no físico.

Esses casos mostram que o mercado brasileiro já entendeu que vender apenas produto é jogar no modo fácil. O desafio agora é vender sensação, memória e significados.


O papel das tecnologias sensoriais e multicanais

As tecnologias sensoriais são o motor da experiência imersiva. Realidade aumentada (AR), realidade virtual (VR), RFID, som espacializado, espelhos inteligentes, vitrine responsiva, QR codes interativos e totems sensoriais são exemplos práticos que já estão em uso no varejo brasileiro e internacional.

O diferencial é como essas tecnologias são integradas à jornada do cliente. Um espelho inteligente pode sugerir looks com base na peça experimentada. Um totem pode reconhecer padrões de comportamento e adaptar sugestões. A vitrine com touch sensorial pode transformar o simples olhar em uma navegação digital.

Mais do que gadgets, essas tecnologias funcionam como conectores entre canais. O PDV vira ponte para o app. A vitrine vira funil. A interação vira dado.

Segundo a Think with Google, 74% dos consumidores esperam que a experiência em loja seja tão fluida quanto no digital. Isso exige uma arquitetura de canais não apenas integrada, mas emocionalmente coerente.


Como planejar uma jornada imersiva no PDV?

Planejar uma jornada imersiva exige uma mudança de mentalidade: sair do pensamento por setor e migrar para a lógica de “fluxos de percepção”. O consumidor não quer apenas andar pela loja — ele quer se envolver.

Comece mapeando os pontos de contato: da fachada à sacola de compra. Em cada um deles, questione: como posso surpreender aqui? O cheiro ao entrar comunica algo? A iluminação conversa com o branding? A trilha sonora muda conforme o volume de clientes?

Depois, integre tecnologia com equipe: não adianta ter espelhos digitais se o vendedor não sabe orientar. A experiência imersiva é como uma coreografia: cada elemento precisa estar ensaiado e consciente de seu papel.

Por fim, colete dados. Tudo o que o cliente toca, experimenta, escaneia ou evita é informação valiosa para o aperfeiçoamento da jornada.


Benefícios reais: do engajamento à fidelização

A experiência imersiva não é cosmética — é estratégica. Segundo a PwC, 86% dos consumidores estão dispostos a pagar mais por uma experiência superior. Isso muda a equação clássica de “preço vs. qualidade”: entra em cena o valor simbólico da marca.

Além disso, ambientes imersivos geram mais engajamento em redes sociais, ampliam o alcance orgânico e reforçam o posicionamento de marca. Um cliente que vive uma experiência marcante tende a compartilhar, comentar e voltar. A memória vira marketing.

Na prática, isso significa maior taxa de retorno, maior tempo de permanência e maior fidelização. É o tipo de vantagem competitiva que não se copia facilmente — porque depende de cultura, não apenas de tecnologia.


Por que a experiência virou diferencial competitivo?

Porque o varejo agora disputa por tempo, atenção e memória. Em um mundo saturado de ofertas, quem proporciona sensação relevante conquista espaço afetivo. E quem conquista esse espaço entra para o dia a dia do consumidor.

Mais do que um “plus”, a experiência virou critério de escolha. Quando duas lojas vendem o mesmo produto, vence aquela que faz o cliente sentir algo. E, nesse jogo, a imersão é a chave.

O Marketing 6.0 ensina que o futuro é feito de significado. E não há significado sem experiência.

Entender o novo consumidor é mais que tendência — é garantia de relevância.


📚 Referências

KOTLER, Philip; KARTAJAYA, Hermawan; SETIAWAN, Iwan. Marketing 6.0: Moving from digital to human-centric. Singapura: Wiley, 2021.

MCKINSEY & COMPANY. The future of shopping: where consumers and technology intersect. McKinsey Global Institute, 2023. Disponível em: https://www.mckinsey.com/industries/retail/our-insights. Acesso em: 22 abr. 2025.

PWC BRASIL. Future of Customer Experience Survey 2023. PricewaterhouseCoopers, 2023. Disponível em: https://www.pwc.com.br. Acesso em: 22 abr. 2025.

HARVARD BUSINESS REVIEW. Why immersive experiences create deeper customer engagement. Harvard Business Publishing, 2023. Disponível em: https://hbr.org. Acesso em: 22 abr. 2025.

THINK WITH GOOGLE. How sensory retail experiences drive consumer decisions. Google Inc., 2024. Disponível em: https://www.thinkwithgoogle.com. Acesso em: 22 abr. 2025.

Autor:

Ronaldo Luiz Cassundé

Consultor de Novo Varejo